1. O que ambicionam as novas gerações? Que propósito que as move?
As novas gerações é um desafio. São gerações que se habituaram a crescer a jogar. Nós nas empresas temos que perceber isso, que elas gostam de desafios, gostam de ser elas a participar. Ver o jogo dos outros pode ter algum interesse mas o gozo é serem elas a jogar e não gostam de estar sempre no mesmo nível porque gostam de ir passando de níveis. Quando estão algum tempo no mesmo nível isso deixa de ter interesse. E é verdade! Portanto andam à procura de outros desafios.
2. A pandemia foi catalizadora desta mudança?
Eu acho que simplesmente acelerou o processo, passando-se a valorizar a vida pessoal de cada um e as pessoas passaram a viver mais a parte familiar e a dar muito mais importância à família, à esfera pessoal.
O tema da felicidade passou verdadeiramente a estar na ordem do dia. E muito bem! Até pelas razões económicas. Está estudado que uma pessoa feliz produz o triplo. E portanto há quem diga "eu prefiro uma pessoa feliz do que ter três infelizes". Para já produz muito mais do que as outras e gera muito melhor ambiente, portanto essa preocupação das empresas de como é que tu te sentes, como é que tu estás, qual é o equilíbrio que as pessoas têm, é fundamental.
3. O que as empresas devem implementar como boas práticas?
De referir que a nova geração precisa de mais feedback. E portanto deve-se falar com regularidade, perceber a pessoa como pessoa. Outro aspeto muito importante é a avaliação de desempenho, que não é um julgamento do passado, é uma base de desenvolvimento do futuro. Eu no passado já não posso mexer. A avaliação não é um julgamento. É uma oportunidade para a pessoa se desenvolver. É um ponto de partida para o futuro.
Eu acho que nós temos que ter estes dois vetores. Pessoas que desenvolvem a empresa porque a empresa desenvolve as pessoas. É uma relação bilateral. E há uma mudança que eu considero também bastante interessante, o Empower Branding, como se fala hoje em dia. Eu tenho que "vender a minha empresa" para atrair talento e desenvolver esse talento. E fala-se muito em salário emocional, que é tudo o que não é dinheiro, mas contribuiu para a felicidade e para o desenvolvimento da pessoa: os horários flexíveis, o ambiente ou a cultura. E cultura acho que ainda não está muitas vezes a ser bem trabalhada na maior parte das empresas. Eu tenho de semear aquilo que vou colher.
4. Um conselho prático para as empresas em 2023
Eu estava a assistir ao World Economic Forum sobre Skills onde diziam que "Life Long Learning" é muito mais importante do que aquilo que você aprendeu na faculdade. Ou nós nos atualizamos e atualizamos os nossos colaboradores e desenvolvemos, e eles sentem desafios, sentem que estão atualizados ou amanhã estamos completamente fora, porque a evolução tecnológica, a evolução das novas gerações, a evolução de formas de pensar, o agile, o design thinking, são tudo coisas novíssimas que quando estive na faculdade não aprendi nada disso.
5. Que tendências estão a surgir com impacto nas organizações?
O "quiet quitting". As pessoas dizerem assim, eu sou pago para trabalhar até às 6 da tarde e portanto a partir das 6 da tarde vou-me embora. Pessoas que não estão dispostas a trabalhar ao fim de semana, não estão dispostas a abdicar da sua vida pessoal.
As pessoas ganharam muito força neste momento com a pandemia no sentido que querem ter na sua vida e a empresa ou contribui para o sentido da vida ou então mudam, vão para o outro lado. E daí a importância de termos uma cultura que verdadeiramente motive as pessoas.
É importantíssimo ter as pessoas motivadas, ter as pessoas a sentirem-se desafiadas, a participarem nas suas decisões e a serem ouvidas nas suas decisões. É ter um sentido de pertença que eu estou a sentir que, com o teletrabalho se está a perder. O híbrido vai ser de certeza o futuro.